terça-feira, 30 de agosto de 2011





Trabalho de Conclusão do Curso II (2011) 1-13


Trabalho de Conclusão do Curso de Fisioterapia

Ergonomia


 Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho e qualidade de vida. Estudo Transversal.


Work-related musculoskeletal disorders and quality of life. Cross-sectional Study.

 Erika E.Machado1,*, Adalgiza M. Moreno, M.Sc.2

1Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira

2Fisioterapeuta Especialista e Mestre em Fisioterapia Cardiopulmonar e respiratória; Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira.



Resumo – Os trabalhadores estão se adaptando às tecnologias e se atualizando perante um mercado competitivo, sendo impostos a esforços que sobrecarregam o sistema osteomuscular e a qualidade de vida. Levando a uma grande maioria de homens e mulheres, inclusive jovens a incapacidade laboral. O objetivo do presente estudo foi identificar os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e qualidade de vida entre trabalhadores de um escritório de contabilidade de Nova Iguaçu-RJ. Com a finalidade de conhecer os fatores geradores de sobrecargas físicas e psicológicas avaliando a incidência de lesões. Realizado através de um estudo transversal onde foram selecionados oito trabalhadores de um escritório de contabilidade, os quais foram submetidos a um questionário de avaliação ergonômica de qualidade de vida e incidência de dores osteomusculares. Os dados foram analisados utilizando o programa Microsoft Office Excel 2007 e para editoração do texto foi utilizado o programa Microsoft Office Word 2010. Resultados: Foram encontradas as prevalências de dor na coluna lombar e cervical de 90% e em 100% dos entrevistados a queixa de dor na coluna vertebral por completo. Conclusão: Pode-se concluir que a alta prevalência de dor musculoesquelética pode ser causada pela presença de mobiliário inadequado, pela adoção de posturas incorretas e pela alta exigência mental das atividades desenvolvidas.



Palavras chaves: Ergonomia, Doença profissional, LER/DORT, Saúde do trabalhador.



I – Introdução


A incidência de lesões osteomusculares de origem laboral é consequência de uma completa interação entre condições físicas e de organização de trabalho, fatores fisiológicos e psicológicos dos trabalhadores e contexto social1-2.
De acordo com Benatti3, (1997) o trabalho tem um papel fundamental na qualidade de vida e saúde dos indivíduos, familiares e na população em geral. Entretanto a organização e as condições de trabalho podem provocar desgastes, doenças e acidentes do trabalho. Sendo assim é considerado acidente do trabalho a doença profissional adquirida pelo exercício do trabalho de determinada atividade.
A terminologia LER/DORT (Lesão por esforço repetitivo/ Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho) foi proposta pelo INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), na revisão da Norma Técnica de avaliação para incapacidade de 1993, introduzindo novos elementos na análise da perícia médica do INSS acerca do processo de adoecimento4. Dentro dessa terminologia incluem-se as tenossinovites, tendinites, sinovites, síndromes compressivas dos nervos periféricos, além de sintomatologias mais disseminadas, como a síndrome miofascial, fibromialgia e distrofia simpático-reflexa5(BRASIL, 2001), sendo patologias crônicas e redicivantes de difícil tratamento, levando a incapacidade não só no trabalho como na vida em geral6.
 Segundo Pivetta et al (2005)7, DORT pode ser definida como manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo em consequência do trabalho realizado de forma inadequada, de acordo com as exigências das tarefas, ambientes físicos e com o processo da organização do trabalho.  Levando a um grande contingente de trabalhadores homens e mulheres, principalmente jovens, com dores crônicas, incapacitados, na maioria das vezes, no auge da sua força de trabalho, colocados à margem de qualquer possibilidade de ascensão social.
A LER/DORT é considerada como a segunda patologia do trabalho com maior incidência no Brasil e tem como consequência mais frequente a incapacidade laboral8. Segundo as estatísticas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) de concessão de benefícios, em 1998, as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) responderam por mais de 80% dos diagnósticos9-2.
Segundo Andersen et al, (2003)10 LER/DORT são comuns entre trabalhadores de escritório, devido a duração do trabalho no computador ter aumentado pela consequência da modernidade. Fatores de risco que aumentam o desenvolvimento desses distúrbios incluem movimentos repetitivos, o pulso estático, braço, pescoço e má postura de trabalho e a variação dos fatores psicossocial.
A ergonomia tem como objetivo prático a segurança, satisfação e o bem-estar do trabalhador, assim a eficiência vem como resultado. Mas muitas empresas vêm exigindo eficiência em primeiro lugar, levando o trabalhador ao sacrifício e sofrimento tanto físico como psicossocial11.
As intervenções conservadores, como fisioterapia e ajustes ergonômicos desempenham um papel importante no tratamento12. A intervenção conservadora incluiu exercícios, relaxamento (Cinesioterapia Laboral) e adaptações no local de trabalho.
Este trabalho tem como objetivo identificar através do uso de um questionário de avaliação ergonômica para qualidade de vida e de ocorrência de LER/DORT dos trabalhadores do escritório de Contabilidade de uma empresa.

 

II – Referencial teórico


De acordo com Benatti2-13(1997), levando em consideração que o trabalho exerce papel fundamental nas condições de vida e saúde dos indivíduos, as condições do local de trabalho e como ele é realizado pode provocar desgastes, doenças e acidentes do trabalho. Segundo a Lei n. 8213, de 24 de julho de 1991, da Previdência Social: “Acidente do Trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que causa a morte, ou a perda, ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o trabalho. Também é considerado acidente de trabalho a doença profissional produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade”.
Interferindo diretamente na qualidade de vida dos trabalhadores, Segundo a Organização Mundial da Saúde: Qualidade de Vida é “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”14 .
O trabalho informatizado impõe ao corpo movimentos altamente repetitivos, impedindo a recuperação dos tecidos e das estruturas fisiológicas envolvidas na manutenção postural. Esse trabalho sendo realizado diariamente, ao longo do dia, predispõe ao trabalhador o aparecimento de lesões. Constata-se a necessidade de no decorrer do dia de trabalho realizar mudanças posturais15.
Os trabalhadores estão se adaptando às tecnologias e se atualizando perante um mercado competitivo, por isso, o ser humano está envolvido num processo complexo e dinâmico que compreende as condições somáticas, os processos cognitivos e emocionais, e as questões sociais. O processo de adaptação ocorre num ritmo elevado, muitas vezes maior que a própria capacidade humana pode suportar, acabando por levar a designadas lesões por esforços repetitivos (LER)/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT)16-17.
A introdução de computadores em larga escala no local de trabalho tem gerado uma epidemia de LER/DORT, especialista afirmam que os danos são provocados por movimentos repetitivos e carga estática, devido à limitada posturas de trabalho.
As LER/DORT são descritas como sendo uma incapacidade laboral temporária ou permanente, resultado da combinação de sobrecarga do sistema osteomuscular, com o pouco tempo para a recuperação e com a má organização do local de trabalho18.
O termo LER/DORT abrange uma gama de condições inflamatórias e degenerativas que afetam os músculos, tendões, ligamentos, articulações periféricas, nervos e vasos sanguíneos, com consequente dor e/ou limitação. Contribui ainda para o surgimento de sintomas depressivos e de ansiedade19-20.
            Os primeiros casos de LER/DORT no Brasil surgiram com os digitadores na década de 80, desde então a ocorrência desse grupo de doenças vem subindo. No início da década de 90, foram as doenças do trabalho mais notificadas pelo INSS21. Segundo dados da Previdência Social, em 2002 foram registrados aproximadamente 22 mil casos, em 2003, 23 mil; e em 2004 em torno de 27 mil casos. E os gastos em 2005 com o pagamento de benefícios atingiram a quantia de R$ 9,8 bilhões. Porém, constata-se que há uma subnotificação de cerca de 80% dos acidentes do trabalho22.
            Em relação aos seus sintomas, verificou-se que seus efeitos atingem o ser humano como um todo, pois o sofrimento, decorrente da dor e das limitações funcionais, além de afetar fisicamente, é agravado pela pressão psicoemocional.
            Seu diagnóstico inicial é difícil porque eles são baseados principalmente em queixas de dor e outros sintomas, correndo o risco de ter diagnósticos diferentes, portanto, avaliações funcionais tais como clínica e de incapacidade têm sido consideradas úteis para determinar limitações23.
            A complicação de a questão dar-se pelo fato de a LER/DORT não ser uma doença aguda, porém se desenvolve durante o exercício laboral e o seu quadro sintomático evolui irregularmente, com progressão do quadro, quando as condições laborais não são alteradas. Os sintomas comumente tornam-se novos sinais e sintomas, devido ao comprometimento de outros grupos musculares24.
            Vários tipos de intervenções são possíveis, mas uma equipe multidisciplinar é essencial para o alcance de resultados positivos. As inconstâncias do quadro clínico durante o tratamento fisioterápico podem estar relacionadas a fatores organizacionais do trabalho25.
            A intervenção fisioterápica requer um profissional apto a identificar e tratar um trabalhador com LER/DORT de maneira holística, sabendo das implicações tanto no âmbito das disfunções mecânicas quanto nos problemas psicossociais, que incluem satisfação no trabalho ou mesmo nas mudanças do corpo devido à idade. A comunicação com outros profissionais da área da saúde também deve ser ressaltada para facilitar o processo de reabilitação do trabalhador26.
            O que tem colaborado para a melhoria das situações de trabalho e para a qualidade de vida do trabalhador é a ergonomia que vem se aderindo como uma necessidade para eliminar ou minimizar os indicadores críticos existentes.27-28-29-30
            O campo de intervenção da atividade ergonômica gera uma expectativa de problematizar para avançar, ampliar e evoluir a sua abordagem da relação indivíduo- trabalho, dando um enfoque na qualidade de vida, mapeando sintomas de disfunções e indicando sugestões para o reequilíbrio satisfatório relação indivíduo-trabalho31.
            De acordo com Dul e Weerdmeester32 (1995), a ergonomia é definida como o estudo da adaptação do homem ao trabalho que pode contribuir para resolução de muitos problemas relacionados, contribuindo para a prevenção de erros melhorando o desempenho do trabalhador. Por isso os conhecimentos foram colocados em normas oficiais com o objetivo de serem aplicados de acordo com a norma regulamentadora NR17. Os princípios importantes da ergonomia resultam do conhecimento de Biomecânica, Fisiologia e Antropometria.
            A Norma Regulamentadora NR1733 aponta parâmetros para permitir a adaptação das condições de trabalho e características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. As condições de trabalho estão relacionadas ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e a própria organização do trabalho.
Equipamentos dos postos de trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.  Os empregadores podem avaliar através de uma análise ergonômica as condições de trabalho.
Segundo a Norma Regulamentadora NR17: Mobiliário dos postos de trabalho deve ser planejado ou adaptado para cada função, seguindo alguns requisitos mínimos como ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento, ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador, ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos segmentos corporais.
Os assentos do posto de trabalho devem ter os seguintes requisitos mínimos de conforto: altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida, características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento, borda frontal arredondada, encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar, poderá também ser exigido suporte para os pés, que se adapte ao comprimento da perna do trabalhador.
Para os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo devem ter as condições de mobilidade suficientes para permitir o ajuste da tela do equipamento à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao trabalhador, o teclado deve ser independente e ter mobilidade, permitindo ao trabalhador ajustá-lo de acordo com as tarefas a serem executadas, a tela, o teclado e o suporte para documentos devem ser colocados de maneira que as distâncias olho-tela, olho-teclado e olho-documento sejam aproximadamente iguais, serem posicionados em superfícies de trabalho com altura ajustável.
Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade, com temperatura efetiva entre 20ºC (vinte) e 23ºC (vinte e três graus centígrados), velocidade do ar não superior a 0,75m/s, umidade relativa do ar não inferior a 40 (quarenta) por cento.
Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve se levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores, devendo ser incluídas pausas para descanso, o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador não deve ser superior a 8 (oito) mil por hora trabalhada, sendo considerado toque real, para efeito desta NR, cada movimento de pressão sobre o teclado, o tempo efetivo de trabalho de entrada de dados não deve exceder o limite máximo de 5 (cinco) horas, sendo que, no período de tempo restante da jornada, o trabalhador poderá exercer outras atividades, observado o disposto no art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho, desde que não exijam movimentos repetitivos, nem esforço visual,  nas atividades de entrada de dados deve haver, no mínimo, uma pausa de 10 (dez) minutos para cada 50 (cinquenta) minutos trabalhados, não deduzidos da jornada normal de trabalho
            A ergonomia pode aliviar o estresse físico e psicológico destes trabalhadores, através da prática da Cinesioterapia laboral e da utilização de mobiliário e equipamentos corretos. Segundo DIAS34 (1994) a cinesioterapia laboral consiste em exercícios especiais realizados no local de trabalho, agindo de forma preventiva e terapêutica, visando diminuir o número de acidentes de trabalho, prevenindo LER/DORT, a fadiga muscular, agir sobre vícios posturais, aumentando a disposição do funcionário ao iniciar e retornar ao trabalho e promover maior integração no ambiente de trabalho.
             Os fisioterapeutas estão entre os prestadores de cuidados de saúde que não apenas tratam DORT, mas também aconselham os trabalhadores e os seus empregadores sobre as práticas de trabalho seguro. É importante que tais recomendações sejam baseadas nas melhores evidências disponíveis sobre trabalho, fatores de risco, bem como os efeitos do tecido e os indicadores comportamentais de base fisiopatologia. 35
 
III – Materiais e Métodos

Este presente estudo do tipo observacional descritivo de corte transversal, realizado em um escritório de Contabilidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, no mês de Março de 2011. O universo da pesquisa foi composto por dez funcionários, sendo 08 do sexo feminino e 02 do sexo masculino, entre 21 e 47 anos, idade média 30,8 (± 9,25) foram incluídos os que realizavam tarefas em posição sentada, com manejo de computadores, papeis e atendimento de telefones, e concordaram com o termo de consentimento livre e esclarecido anexado neste trabalho, excluídos os que optaram por não responder as questões.
Os dados foram coletados por meio de um questionário que se encontra em anexo, aplicado para identificar a incidência de dores no corpo e outro para qualidade de vida do trabalhador. Foram analisados utilizando o programa Microsoft Office Excel 2007 e para editoração do texto foi utilizado o programa Microsoft Office Word 2010.
 A análise desses dados tornou possível a identificação da incidência de dores musculares nas regiões da nuca, cotovelo, antebraço, pulso/mão, coxa, barriga da perna, ombro, costas, região lombar, quadril, joelhos e tornozelo/pé e também relacionada à qualidade de vida do trabalhador se ele realiza atividades físicas, sente dores de cabeça, dorme bem, sente dificuldades de realizar seu trabalho, disposição para o mesmo, realiza horas extras, trabalha mais de oito horas por dia, fica cansado facilmente, procura o médico quando sente dores no corpo e se realiza pausas no expediente.  

IV-Resultados

Assim, o quadro a seguir (Gráfico 1) apresenta a lista de regiões anatômicas analisadas, e suas respectivas alternativas:


V-Discussão


Com a entrada do modo de produção capitalista na era da globalização, marcada pela intensidade e generalização da internacionalização do capital, as empresas tradicionais encontraram novos concorrentes e os impactos no trabalho que intensificaram o ritmo de trabalho, levando a exigências redobradas de produtividade e de qualidade. O prolongamento da jornada de trabalho com aumento das horas-extras, a redução do quadro de pessoal, a informatização intensa, o rebaixamento salarial, a instauração de um clima geral de insegurança e precariedade do trabalho, levaram ao aumento da ocorrência de LER/DORT17.
De acordo com Gardiner36(1995), a postura eficiente desenvolve-se muito naturalmente, desde que os mecanismos essenciais à manutenção e ao ajustamento estejam saudáveis. Dickson37 (1983) afirma que geralmente considera-se a postura anormal como o fator etiológico principal de condições dolorosas e incapacitantes. As dores que acometem a musculatura da coluna vertebral são, em 90% dos casos, ocasionadas por vícios de postura, estresse postural, contraturas musculares sustentadas e vida sedentária.
Neste estudo longitudinal entre os trabalhadores de escritório, verificou-se que o relato de queixas na região do pescoço (nuca) foi semelhante aos do ombro, costas e região lombar, no entanto, superior aos de antebraço e joelho. A ocorrência de cervicalgia está relacionada à má postura, atividades de trabalho que impliquem no uso de carga (vibração, torção ou flexão do pescoço, postura sentada, elevação de peso) e também a fatores psicossociais.
Este estudo também mostrou que o sedentarismo é um fator diretamente relacionado ao agravo das disfunções, onde 50% dos trabalhadores nunca praticam atividades físicas, 30% raramente praticam 20% praticam às vezes. Ainda mostrou que normalmente os entrevistados não procuram o serviço médico quando sentem dores musculares.
Conforme Couto, Egri 38-39, (2000) as mulheres são mais acometidas por LER/DORT, porque elas possuem 33% menos força muscular, além do que, elas realizam uma dupla jornada de trabalho: trabalho externo e atividades domésticas.
 Os estudos têm demonstrado que os problemas musculoesqueléticos são particularmente comuns em profissionais de escritório. A longa duração e o caráter incapacitante fazem com que a prevalência encontrada neste estudo seja considerada importante.
Um estudo de intervenção realizado por Ketola et al (2003)40, demonstrou que um programa de ergonomia abrangente (educação em ergonomia, mesa e cadeira adaptada, o uso do braço, mudança altura da tela, novo mobiliário de escritório, pausas curtas de descanso e postura relaxada)  foi significativamente associada com redução do desconforto no pescoço, ombros e parte superior das costas.
Ainda neste estudo foi constatado que destes profissionais 30% sentem-se cansados com facilidade frequentemente, 50% às vezes e 20% raramente. E que 20% nunca fazem pausa durante o expediente, 30% raramente, 20% às vezes. Esse trabalho intenso e sem a realização de pausas são fatores que levam a fadiga não só física como psicológica.  Os trabalhadores com diagnóstico de LER/DORT, de acordo com o Ministério da Saúde, são, em sua grande maioria, jovens e mulheres que exercem atividade que exigem maior esforço e repetitividade, dos mais diversos ramos de atividade, principalmente nas funções de digitação.
Segundo Martins, (1999)41 homem cada vez mais está se acomodando numa condição "estático-sedentária", tanto no trabalho quanto no lazer. No trabalho, ele vem efetuando um crescente número de atividades repetitivas, e no lazer, utilizando seu decrescido tempo livre em "inatividades físicas".
            Verificou-se que mesmo insatisfeitos com o espaço físico, os trabalhadores gostam do trabalho que realizam, onde 60% sentem-se sempre dispostos a realizar o trabalho e 40% frequentemente. Como a maioria dos trabalhadores também já sentiu ou sente dores durante a realização do trabalho, pode ser uma disposição ao aparecimento das LER/DORT, dentre estas pessoas que relataram sentir dores, grande parte delas não faz nada para aliviar a dor, algumas chegam até a tomar remédios.
           
VI-Conclusão

Esta pesquisa buscou identificar características referentes à dor e às dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na vida diária e no trabalho. Assim, a partir dos resultados obtidos através de questionários pré-estabelecidos, podemos constatar que os trabalhadores que desempenham tarefas com carga mental predominante queixam-se de perturbações físicas, tais como dores musculoesqueléticas.
Dentre esses fatores estão o grande tempo de utilização do computador, com trabalho intenso e sem a realização de pausas e a postura incorreta na cadeira. Esses fatores prejudicam tanto a saúde física quanto mental dos trabalhadores. Vale destacar que há propensão ao sedentarismo, pois 50% dos funcionários não praticam nenhuma atividade física regularmente.

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* Autor correspondente: erikaehrhardt@homail.com

Obs:
- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo é de seu autor.
- Publicado em 30/08/2011.

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